2010
A quase um ano na região da "Cracolândia", tive o desprazer de andar em uma viatura policial, numa busca (frustrada) por um celular que havia sido arrancado de mim com uma faca enferrujada em um farol.
Esse passeio me colocou frente a uma realidade que só conhecia pela TV, crianças, velhos, jovens e adultos vagando feito zumbis, aglomerações de gente que se dissipava feito nuvem de gafanhotos à medida que o carro da policia se aproximava
Vi, (porque saber eu já sabia) que o Crack não escolhe idade e nem classe social e o furto do celular pra mim passou a ser uma chateação e não um problema.
Isso tudo pra dizer que hoje ouvi no rádio sobre um evento curioso da VIRADA CULTURAL QUE ACONTECE EM SÃO PAULO TODOS OS ANOS e me surpreendi.
Seria feito, um passeio noturno com lanternas, na região da Cracolândia!!!!!
Pois é, eu também me assustei e pensei " é claro que aquelas pessoas que vi não estarão lá, a prefeitura se encarregará de retirá-las"
Aquela região é a vergonha da cidade, talvez nosso maior exemplo de incivilidade, de degradação urbana e humana.
Mas por outro lado:
Porque isso deve ser escondido? Porque nós é que temos que nos prender nas casas e de preferência em condomínios fechados, intimidados pela violência moral e urbana. Se olharmos por esse lado seria uma ótima oportunidade para a população dizer que: Quer sim andar nas ruas (em qualquer uma) que esse tipo de degradação fere nosso direito de ir e vir.
Quem sabe também não é uma ótima oportunidade mesmo que de forma emblemática ou inocente de levar luz aquele lugar, uma oportunidade de apropriação do espaço por mais caótico que seja.
Quem sabe nossos governantes, principalmente os municipais, mesmo que em um breve momento de lucidez percebam que existe muita gente ( já que gente é sinônimo de votos na cabecinha deles) e mais do que eles pensam interessados nessa revitalização.
O que acontece naquele lugar é imoral, não só pelo Crack, mas porque ali existe uma ordem invisível de proibido passar.
Sei que estamos diante de algo muito mais complexo do que o projeto de um edifício, e que o universo urbano se estende muito além até mesmo do que o "urbanismo" consegue alcançar. Mas pelo menos como arquitetos e Urbanistas somos chamados ora ou outra a assumir nossos papeis ou pelo menos pensar neles...
São iniciativas como essa que trazem um pouco de luz e lucidez (mesmo que de lanternas) para a nossa falta de esperança.
"O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem continuada: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo e abrir espaço"
Esse passeio me colocou frente a uma realidade que só conhecia pela TV, crianças, velhos, jovens e adultos vagando feito zumbis, aglomerações de gente que se dissipava feito nuvem de gafanhotos à medida que o carro da policia se aproximava
Vi, (porque saber eu já sabia) que o Crack não escolhe idade e nem classe social e o furto do celular pra mim passou a ser uma chateação e não um problema.
Isso tudo pra dizer que hoje ouvi no rádio sobre um evento curioso da VIRADA CULTURAL QUE ACONTECE EM SÃO PAULO TODOS OS ANOS e me surpreendi.
Seria feito, um passeio noturno com lanternas, na região da Cracolândia!!!!!
Pois é, eu também me assustei e pensei " é claro que aquelas pessoas que vi não estarão lá, a prefeitura se encarregará de retirá-las"
Aquela região é a vergonha da cidade, talvez nosso maior exemplo de incivilidade, de degradação urbana e humana.
Mas por outro lado:
Porque isso deve ser escondido? Porque nós é que temos que nos prender nas casas e de preferência em condomínios fechados, intimidados pela violência moral e urbana. Se olharmos por esse lado seria uma ótima oportunidade para a população dizer que: Quer sim andar nas ruas (em qualquer uma) que esse tipo de degradação fere nosso direito de ir e vir.
Quem sabe também não é uma ótima oportunidade mesmo que de forma emblemática ou inocente de levar luz aquele lugar, uma oportunidade de apropriação do espaço por mais caótico que seja.
Quem sabe nossos governantes, principalmente os municipais, mesmo que em um breve momento de lucidez percebam que existe muita gente ( já que gente é sinônimo de votos na cabecinha deles) e mais do que eles pensam interessados nessa revitalização.
O que acontece naquele lugar é imoral, não só pelo Crack, mas porque ali existe uma ordem invisível de proibido passar.
Sei que estamos diante de algo muito mais complexo do que o projeto de um edifício, e que o universo urbano se estende muito além até mesmo do que o "urbanismo" consegue alcançar. Mas pelo menos como arquitetos e Urbanistas somos chamados ora ou outra a assumir nossos papeis ou pelo menos pensar neles...
São iniciativas como essa que trazem um pouco de luz e lucidez (mesmo que de lanternas) para a nossa falta de esperança.
"O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem continuada: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo e abrir espaço"
Italo Calvino em Cidades Invisíveis
Pensemos nisso!
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