quinta-feira, 25 de abril de 2013

O ROTEIRO E A CENA

22/03/12

Havia uma flor no meio do caminho, no meio do caminho havia uma flor... E antes que eu a percebesse, dois segundos antes, uma pessoa se abaixou e a pegou, dois segundos  antes daquela pessoa romper o  ponto de intersecção do nosso encontro de  caminhos anônimos cruzados.

Aquela pessoa  a quem não lembro mais a fisionomia, se escondia  atrás de um par de óculos escuros e grandes o que provavelmente ofuscou o brilho do vermelho da flor, ela aparentava o dobro da minha idade ao julgar pela cor de seus cabelos, sem me dirigir uma palavra sequer,  disse que: a minha idade não é tão pouca assim para ignorar uma flor, apesar da cor dos meus cabelos.

E apesar também do sol alucinante que  faz as pessoas andarem com o nariz recolhido em direção a testa e a respiração pesada, vi naquele rosto, uma expressão de agradecimento, uma pequena contração que sugeria um sorriso discreto no canto da boca quando a flor foi delicadamente arrancada do concreto e levada ao nariz,  ali de longe absolvida pela delicadeza da cena que se desenrolou na minha frente e em  frações de segundo, tentei imaginar um cheiro e não consegui...

Uma pessoa a que não lembro mais a fisionomia, de óculos de sol e cabelos brancos  se curvou e se abaixou, quase numa reverencia  para  recolher uma flor que estava no chão,  imperceptível  ao não ser por ser vermelha, ao menos para mim que estava sem óculos o que me sugere que a cor não era a mesma para nós duas, mais sendo vermelho em qualquer escala, tom e brilho é o mesmo,   o  que desperta os sentidos de sobrevivência de qualquer animal.

Uma cena pseudo-sentimental acrescido de romantismo, um momento em um tempo em que as pessoas não se abaixam nem para recolher moedas perdidas julgando que o valor ali  exposto no chão, não compensa o esforço  cervical desperdiçado.

Uma cena isolada do dia, em que aconteceram milhares de outras coisas mais importantes

Mas a mesma flor, no meio do caminho, ocupando o mesmo lugar das pedras que atrapalham, já morta, colhida ou arrancada e por isso sem nenhum valor, foi percebida , no meio do caminho como pedra para alguns,  cena para outros e para poucos  como um presente do dia.

Mas  deixando as pedras de lado, porque agora elas não importam muito, esclareço  por parte da flor que se ofereceu ,  elegantemente no meio de tantos olhares  levianos e que antes de secar com o sol quente ou ser pisada, (por pouco, por mim mesma!) emprestou seu último cheiro e sua ultima cor a quem passava que: O presente é digno  para aqueles que entendem que visível, perceptível e invisível é uma coisa só e podem ocupar sim o mesmo lugar no espaço, pelo menos pra que não enxerga só com os olhos e mesmo assim vê.

Fora isso é só uma cena mesmo concordo, com um roteiro romântico

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